quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sinto muito....

"Muitos me perguntavam como era possível conviver diariamente com o desgosto. A resposta é simples: é um privilégio poder conhecer a humanidade no seu melhor, na Coragem, mas sobretudo, no Amor. Os médicos e as enfermeiras com quem trabalhava eram santos, porque, como ouvi, os santos não se vêem todos da mesma maneira. Lembro-me de Perez , um rapaz de 15 anos que cansado das naúseas e da dor, desistiu do tratamento de viver, o melhor que podia, os meses que lhe restavam. A mãe aceitou sem discussão a opção do seu filho. Despediu-se do emprego para gozar com ele a Vida. Tivemos um último encontro num jardim de NY, em Outubro, num daqueles dias excepcionais em que o sol abre as cortinas do Inverno. Dia apropriado para o encontro que era, simultaneamente, uma separação. Despedimo-nos com um abraço e um sorriso: até breve. Naquele momento, o tempo não teve dimensão. Mas recordo sobretudo a Jennifer, uma rapariga encantadora, amante dos golfinhos, que na roleta dos tratamentos decidiu apostar tudo num transplante que falhou. O pai, no dia do enterro, cobriu o caixão de golfinhos azuis que na pintura sorriam para ela. Na missa, a mim, seu médico e também carrasco, chamaram-me para a sua banda, e dando-me as mãos consolaram-me de um desgosto tão fundo de que só mesmo eles me poderiam içar. Durante anos, tive a sua fotografia no ecrã do meu computador, para que todos os dias me lembrasse porque trabalhava. Poucos meses depois da sua morte, os pais pediram-me ajudar para lançar uma fundação com o nome de Jennifer para ajudar na luta contra o cancro. O dinheiro dessa Fundação foi direito para o hospital onde morreu. A Humanidade no seu melhor , na Coragem, mas sobretudo, no Amor."

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